quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Apenas um sonho?

Ontem assisti a um filme chamado "Foi apenas um sonho". Eu e minha mãe alugamos pra minha irmã, porque achamos que seria um filme de romance água com açúcar, desses adolescentes - detalhe: Leonardo Dicaprio no papel principal! Pois bem. Ontem resolvi assistir junto com ela. Foi a maior surpresa que tive, por dois motivos. Um: o filme não é nada bobinho; pelo contrário, é profundo, com mensagem substancial. Dois: no dia anterior eu tinha escrito um texto (uma epifania, como as inúmeras que escrevo normalmente); o filme continha mensagem muito semelhante ao que escrevi. Intuição? Talvez. Ou apenas coincidência... a única coisa que sei é que peço a quem me visita para ler o que escrevi. Tire suas próprias conclusões, claro. Mas preste atenção, há uma mensagem subliminar. E assista ao filme, é ótimo. Katie Holmes está brilhante na atuação, e linda como sempre.

Ok. Além da epifania, vou postar o clipe do terceiro e (infelizmente) último single da Laura antes de sua pausa na careira. Isso mesmo, pausa... vai se afastar por pelo menos um ano para aprender a levar uma "vida normal", como ela diz. Aprender a ser comum, casar e ter um filho. Casomai é claramente uma declaração de amor à Paolo, seu namorado. Clipe gravado nos bastidores da turnê. Enxuto, limpo e claro. São os adjetivos que melhor o caracterizam.


"Era mais um dia de janeiro. Um simples dia, cujas expectativas mais uma vez não haviam sido superadas. Nem mais nem menos. Tudo exatamente igual. As notícias já não eram novidade ou surpresa. O café, o almoço e o jantar tinham o mesmo sabor de todos os outros dias. O sol nasceu e se pôs. A lua seguia seu ciclo, mas nem importava saber em qual fase. Isso não faria diferença alguma. O trânsito, o comércio e as ruas estavam infernais, seguindo a temperatura também infernal. A noite não trazia vento, o que não era de se reclamar. Todo verão, as mesmas chuvas, tão rápidas que nem chegavam a molhar o asfalto. O cachorro tinha o mesmo sorriso ingênuo que todo cachorro tem. Queria brincar e ser acariciado. Todos gostam de ser acariciados. Mas o carinho nunca é bastante. A rotina, apesar de normal, tinha um rosto assustador por debaixo da máscara. Satisfazem-se a maioria dos mortais, tanto animais quanto vegetais. E os homens também se acostumam. As coisas não demoram muito a se tornarem costume. Embora o filtro solar seja necessário, quase ninguém se importa com o sol. E assim vai se levando a vida. Até que se envelhece, e vêm as rugas. Os hábitos, nada saudáveis (e mesmo assim rotineiros), acabam desenvolvendo a causa mortis. Ou então se morre por acidente, aleatório ou intencional. A morte, como quase tudo, não deixa de fazer parte da rotina. Aos poucos vira costume. Se aceita o ciclo vida-morte ou se enlouquece. E até a loucura, também vai se tornando comum, enriquecendo as indústrias que prometem pílulas de bem-estar, ansiolíticos que entorpecem cada vez mais, comprimidos que suprem o carinho e o amor não compartilhado. Cresce o individualismo, e assim se preocupa mais com o próximo capítulo da novela. A rotina sorri, e o humano se desumaniza. A publicidade anuncia as piores tragédias possíveis e as mais inatingíveis imagens de fama, luxo e poder. Mas nada disso é novidade. Também faz parte do roteiro. Todo dia uma manchete escandalosa; toda semana uma belíssima capa de revista; toda estação uma nova moda; todo ano a mesma falsidade no Natal, as mesmas superstições no Réveillon, o mesmo concorrido carnaval. E as academias superlotadas. Corpos cada vez mais esculpidos, e nunca é suficiente. As bibliotecas ainda são rotina, mas vivem tranqüilamente vazias. As máquinas substituem os seres. E isso, claro, é o futuro que sempre se imaginou. A cada dia um aparelho mais moderno, mais capaz de imitar e afastar os humanos. A rotina dá gargalhada. Festeja-se o erótico e admira-se o exótico. E ambos se intensificam, pois com o tempo deixam de dar prazer. O recém-lançado atropela o jovem lançado ontem. Querer novidade é natural. Mas nada é novo debaixo do sol, já dizia Salomão. O lixo se acumula e causa catástrofes e fenômenos cada vez mais devastadores, que por sua vez alimentam a publicidade faminta. Já é de se esperar que virem rotina, claro. O fim do mundo é sempre aclamado. As pessoas rezam para que sejam salvas e merecedoras de um lugar no céu, quando não percebem que já vivem num inferno. O inferno criado, cultivado e adorado por todos. O inferno maquiado e motivo de comédia, abusos, igrejas lotadas. E não há religião que supra o desespero resultante da culpa de ser desumano. Todo dia se acorda e se deita para dormir perdoando-se por ser hipócrita, já que essa é a rotina. Sempre foi, e não é agora que vai deixar de ser. As narinas se enchem de pó, os pulmões de fumaça, os fígados de álcool, os rins de todo tipo de tóxico. As mentes já não pensam; apenas se informam do mal que as drogas causam. O homem se destrói por dentro, e se esculpe por fora. Botox, plásticas, silicone. Tudo costume. É preciso cada vez mais de novas técnicas para se manter belo. O gordo é doente, e o magro demais ganhou o nome de anoréxico. A rotina rola de rir. Quem não aceita o padrão, é ridicularizado, excluído. Um coitado, iludido, revolucionário; sinônimos para louco. E lá vêm aquelas drogas da felicidade. Um para dormir bem, outro para passar bem o dia. Mas filtro solar pouca gente usa. Os alimentos são preparados cada vez com mais agilidade e tóxicos, e menos sabor. Mal se senta para mastigar. Um lugar no restaurante, fast-food ou self-service ou ambos, é disputado a olhares malignos, obrigando a se deglutir logo a comida e voltar correndo para a rotina de trabalho e/ou estudo e/ou futilidades. E quem se surpreende com a falta de tempo? Talvez um monge tibetano ou um índio amazônico. Mas estes seres (que têm tempo para meditar e aproveitar as pequenas coisas simples da vida) são rotulados como estranhos, por serem abdicados de bem material. Alguns consideram divindades, outros apenas não compreendem, e nem se importam. Cada tribo com sua rotina. Mas ela não muda muito. As máscaras só mudam de raça, cultura e idioma. Não há como resistir à força do hábito. Não se perde costume. O que se perde é a capacidade de pronunciar frases curtas como “te amo”. E o que se ganha é mais dinheiro para patrocinar a indústria da moda, das drogas lícitas e ilícitas; dinheiro para comprar o prazer e o bem estar para continuar aceitando a vida como ela se apresenta. Dinheiro para esmagar os sonhos e se vangloriar de luxos cada vez mais imbecis. Dinheiro para ensinar que a felicidade é um momento de alegria entre a família ou os amigos, ou ambos, ou mesmo sozinho, apesar de todo o resto de tempo sendo gasto trabalhando exaustivamente. A televisão reafirma, e ainda lucra em cima da ilusão dos pobres. O aquecimento global é realidade, pois as chamas desse inferno só aumentam. Mas até esse assunto já ficou repetitivo. O que não se cansa de repetir é que poder, luxo e felicidade advêm da riqueza. E isso é aceito e vivido como verdade. E mesmo frisando a importância do filtro solar, ninguém dá atenção. A atenção se volta para as celebridades, que se atropelam nos tapetes vermelhos. Quanto mais fofocas, mais visibilidade. E assim, mais fama e dinheiro. Chegar ao estrelato é sacrificante, e manter-se nele é pior ainda. O mesmo se aplica aos altos cargos, qualquer seja a área. Sonhos são coisas da juventude. Finge-se que são patrocinados. Vendem-se livros que revelam o mesmo segredo óbvio do bem viver. Mas o que se lê não se aplica à realidade. Filmes de amor são produzidos, mas fora das telas os atores são marionetes de quem têm poder. Por isso o amor é apenas um tema, assim como a ficção, a guerra, o épico. Acostuma-se com tudo isso. Nada é tão absurdo ou bobo que não possa ser incorporado à rotina. Viva a vida e sua ditadura mascarada!"

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