quarta-feira, 12 de outubro de 2016

"Easy Ride" ou: não consigo parar

Escrevo. Simplesmente pelo fato de escrever. "Faço o círculo a minha volta, 360° e estou de volta". Dou voltas e voltas, como um círculo, e me sinto em casa. Difícil de explicar, mais difícil ainda vivenciar.
Meu passado reflete sombras ainda não bem esclarecidas. E o futuro se desenha num rascunho meio torto, meio distorcido. Algo confuso se mistura entre os giros que se torcem dentro da cabeça. Algo que é belo, porém perigoso. É parecido com toda a sensação de medo que a mudança traz consigo. Mas é algo ainda mais delicado, sem tanta dramatização de praxe.
Ele se vê no espelho. Eu me reflito, e não chego a conclusões sensatas. Não entendo nada a minha volta, a não ser o brilho do afeto que mantém vivas minhas esperanças. Nada me é estranho, nada me é familiar. As voltas insistem em me levar para outras dimensões, enxergar outros pontos de vista. E por isso sigo construindo e elaborando novos projetos. Olhar para trás é somente um dos pilares dessa construção. E olhar adiante me fascina, ao mesmo tempo em que me assusta. Quais serão as próximas cenas? Por onde andarei nesse mundo de tantas voltas?
Ele se confunde no meio da multidão. Eu me perco dentro de mim. E num instante já não estou mais ali. Vivo longe, penso alto. Mas não vou muito a fundo. Prefiro o risco da superfície, apesar de ter coragem de continuar me arriscando. Afinal, não é isso que a vida propõe? Quem não vai porque tem medo de sofrer é covarde.
Por falar nisso, ele se sentia envergonhado. Eu, hoje, não abaixo mais a cabeça. Sigo em frente com o orgulho que devo ter, com as armas que posso usar. Cada momento exige uma postura. Para cada gesto existe um modo de reagir. Bom senso nunca é demais. Mas não é disso que se trata. A loucura também é bem vinda em certas ocasiões. É chato quem "se cura" demais, já dizia Nise.
E assim ele prosseguia, sem pensar muito. Já comigo acontece o oposto. Sinto e vibro cada pulsação, abraço os pensamentos e faço deles uma refeição. "A poesia é para se comer".

"But I don't want an easy ride..."

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Sono solo nuvole

Há muito não escrevo publicamente. Apenas no caderno de confissões. Retorno ao blog, como se o tempo tivesse congelado durante esses anos.
"Sou somente nuvem" - a música mais linda do álbum mais recente da Laura Pausini, "Simili". Há momentos em que basta ser nuvem. Basta ser volátil, basta se entregar a mudanças. Faz parte do processo - o de evolução pessoal. O que a vida quer de nós é coragem, como dizia Guimarães Rosa. Para mudar é preciso coragem. E agora assumo a coragem de mudar. Imponho a mim mesmo a necessidade de rever conceitos, de re-inventar planos e sonhos, afim de alcançar objetivos que sempre estiveram em pauta.
"Abandono" uma cidade e um emprego que faziam parte da minha rotina. Abandono entre aspas porque não pretendo que seja no sentido literal da palavra. A intenção não passa de reflexão. Para se tomar atitudes é preciso deixar certos hábitos de lado. A cidade continua lá, o emprego continua sendo uma experiência única, e ambos representam uma parte de mim que não deixará de existir - o abandono é um "até logo!".
Me amparo nas pessoas que mais se importam com meu bem estar, ao contrário de antes, quando me apoiei em pensamentos equivocados, inspirado por gente que representa sentimentos negativos, como ganância e egoísmo. O orgulho, afinal, nos isola numa redoma de autodestruição. Não se constrói nada a base de vaidade. Não se consegue prolongar meias-verdades. É preciso organizar, estabelecer metas.
O caminho daqui pra frente se estende, se desenha em outros contornos, e não vai bastar ser corajoso. Vai exigir firmeza, empenho e força (principalmente a de vontade). Meus sonhos se tornam cada dia mais nítidos, mas o caminho até a concretização deles ainda é um esboço.
Continuo me re-inventando, naquela velha e mais autêntica concepção de que somos sujeitos à transformação - aquela metamorfose ambulante... E por enquanto me basta ser nuvem.


domingo, 6 de maio de 2012

Light Profusion, parte 3 - Amor

Quero escrever que o amor é tudo.
Quero escrever que a verdade é uma ilusão.
Quero escrever apenas.
E vou escrever que amanhã ainda estou aqui.

Ainda que o amor seja ridicularizado.

Mesmo que não existam mais canções de amor.
Quero defende-lo até o fim dos tempos.
Não vou deixar tudo se tornar ilusões.
Quero escrever apenas.
Não vou escrever que...
E deixo um aviso: já não sei se estarei aqui.
Não quero que perguntem por mim.
Podem dizer que perdi a vontade de viver.
Mas, antes, lembrem que o amor é tudo.
Não se envergonhe em duvidar de mim.
Me entregue todo o seu ser.

Ainda que o amor seja ridicularizado.

Tanto quanto as canções de amor.
Quero canta-las até o fim dos tempos.
Não quero que ilusões me tomem conta.
Nem vou deixa-las invadir o seu ser.
Mas preciso que você me dê a mão.
E digo mais: deixe que perguntem por mim.
Não vou me importar com palavras.
Quero apenas escreve-las.
Sem amor não há felicidade.
Mesmo que tudo seja um grande delírio.

Ainda que o amor seja ridicularizado.

Quero te construir um céu.
E quando as estrelas queimarem.
Estarei aqui pra te defender.
Estarei atento pra não me iludir.
Não quero que ilusões te tomem de mim.
De novo não.
Eu insisto, não vá embora ainda.
Posso querer te entregar todo o meu ser.
Quero vive-lo até o fim dos tempos.
Mas preciso que você me dê a mão.
Amar alguém só pode fazer bem.

Ainda que o amor seja ridicularizado.

Quero terminar de escrever.
Não vou me conter outra vez.
Perdoe minha extravagância.
Não sei se vou continuar aqui.
Mesmo que tudo seja uma ilusão.
Ainda quando o céu se despedaçar.
Vou olhar as estrelas até ve-las queimar.
E você vai me bastar.
E vamos cantar canções de amor.
Rindo da felicidade que ele nos traz.

Ainda que o amor seja ridicularizado.

E quando acabar de ler.
Não se envergonhe em me procurar.
Sempre estive ao seu lado.
Só quero te fazer bem.
Amar alguém não pode fazer mal.
A não ser que seja uma grande ilusão.
Pode ter certeza que...
Ainda vamos nos encontrar novamente.

Ainda que, no fim dos tempos, o amor seja ridicularizado.


sexta-feira, 4 de maio de 2012

TVM

Hoje quero que tudo se exploda
Vai pro inferno quem me quer mal
Vai pro céu quem me quer bem
E vou pros dois lugares
Não quero vingança, não te quero mal
Não quero saber de três palavras
Nada de "Ti voglio bene"
Muito menos "Ti voglio male"

Só não me peça perdão
Nem me peça pra ir embora
Peço pra te esquecer
Por que é tão difícil?
Só não me pergunte.
Não sei responder, nem mesmo perguntar
Te busco em todos os lugares
E sei que não devo te buscar

Falei muita coisa
E muita coisa foi inútil
O que é útil, não sei dizer
O que foi certo, talvez nem se pode julgar
E de julgamentos já bastam os meus
Três palavras me incomodam
Te quero do jeito que você é
Você se roubou de mim

O meu erro foi querer
Porque meu querer não tinha fim
E as perguntas que me faço não tem sentido
O sentido, cada vez mais non-sense
E agora estou aqui, sentado
De braços cruzados, esperando uma opção
Mesmo que essa opção seja apenas esperar

Eu que não sei nada do amor
Descobri que nem sei por onde começar
Não canso de tentar te esquecer
Mesmo sabendo que quanto mais eu quero
Menos eu consigo não te querer
E quanto mais eu falo, menos sentido vejo nas coisas
As malditas coisas que não existem

Que seria de mim sem o socorro das coisas que não existem?
Não tenho medo, nem piedade, nem julgamento
Tenho apenas a dor do que passou e não aconteceu
Tenho apenas o vazio de três palavras
"Não consigo esquecer"

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Nada, tudo - ou a beleza de ser um eterno aprendiz

De repente me vi no meio dessa multidão de idéias que não faziam sentido algum. Vi rostos conhecidos e não me senti tão perdido. Vi nesses rostos a dúvida do que a sorte lê. Senti um arrepio, como se visse um fantasma. Algum conhecido de um passado remoto, que eu nem lembrava mais ter existido. As idéias se conectavam, mas não se identificavam. Formavam uma grande confusão. Como se cada um quisesse defender sua verdade - e eram autênticos, não posso negar - mas sem saber que a verdade é única. Como canta a música, a verdade é uma ilusão vinda do coração. E tudo que é do coração é autêntico, e por isso merece ser ouvido. A cada um cabe decidir sua verdade (ilusão ou não).
Como diz o poeta, "que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?"... sim, nossas verdades podem não ser reais, mas se são úteis para dar um sentido ao que vivemos, vale a pena acreditar nelas.
Hoje busco um sentido. E, às vezes, a própria busca já é o que eu queria encontrar. Pra ser feliz, é preciso encarar as coisas como a gente quer que elas sejam. Não posso aceitar isso como clichê. No caos, enxergamos uma saída, dolorosa ou não. E essa saída pode ser uma ilusão. Afinal, precisamos das coisas que não existem, para um dia não precisarmos delas mais.
Outro dia pensei que a visão de uma criança nos mostra um caminho sólido. E continuo pensando assim. Porque as ilusões da infância são reais pra uma criança. Simples assim, sem rodeios. É aqui que me encaixo na "teoria do brincar".
Então, pra finalizar essa breve epifania, nada melhor do que cantarolar aquela velha e clássica letra, popular a todo brasileiro... "eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida... é bonita, é bonita e é bonita!"

domingo, 22 de abril de 2012

LIGHT PROFUSION, parte 2 - Anestesia

Outro dia baixei a música do Bruno Mars, It will rain. O primeiro verso é assim: "se um dia você me deixar, baby, deixe um pouco de morfina na minha porta". O que será tão apelativo quanto usar um analgésico tão potente para aliviar a dor da perda? Me ponho a pensar... acho impressionante como as pessoas perderam a noção do amor. E é triste perceber que cada vez mais o mundo é anestésico. Vamos injetar morfina pra esquecer as paixões! Vamos tomar suplemento para alimentar a carência! Vamos aplicar lidocaína para não sentir medo, nem compaixão, nem admiração! Vamos distribuir propofol para não se usar mais o raciocínio! Ibuprofeno para desinflamar o coração partido! Alprazolam para matar a ansiedade, ao invés de enfrentar os problemas! Lexotan pra fugir da realidade! Fluoxetina para viver mais feliz, no país das maravilhas! Vamos distribuir todos esses medicamentos nas praças, nas igrejas, nas empresas, nas escolas! Até na porta das casas, num pacote escrito: "Para nossa alegria!"
Nem é preciso tomar tal atitude. A sociedade já se auto-medica de frustrações dos sonhos não realizados,  de ignorância à dor alheia, de egoísmo conjugado à vaidade desenfreada, de estresse consequente da pressa, de intolerância às opiniões divergentes, e de tantas outras drogas que nos fazem cada vez menos apaixonados pela vida.
Cada vez menos se conhece as pessoas. Não é seguro mais se abrir, se envolver e se doar com qualquer um. O medo se espalhou igual a dengue, mas sem precisar de um mosquito como vetor. Nós mesmos transmitimos. E do medo se evolui para a angústia. E daí pra frente, o fundo do poço é o destino final. Os Parafraseando um amigo meu, "a esperança é a última que morre, porque ela nos mata antes". Quem espera, não anda pra frente. Mas o mundo não pára de girar. O tempo não pára. Quem espera fica pra trás. E quem vive se anestesiando, na verdade está fingindo viver. E não há nada mais triste do que uma vida vazia e falsificada. Prefiro sentir, rir e chorar; prefiro quebrar a cara experimentando; prefiro me apaixonar sem esperar nada em troca; prefiro me dilacerar em vários fragmentos para depois uni-los; prefiro a tranquilidade de perceber que o tempo está passando e eu estou seguindo o caminho que tracei.
Pelo menos, não estou anestesiado.

"Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra
Nos serões da província..."



quarta-feira, 11 de abril de 2012

LIGHT PROFUSION, parte 1

É impressionante como se organiza e desorganiza a mente humana. E é maravilhoso! É sensacional perceber que no caos se encontra o equilíbrio. Quando tudo está sombrio, qualquer luz se faz brilhante. E quando seguimos o que nossa intuição orienta à nossa inteligência, as peças vão se encaixando, formando imagens e cenas cada vez mais sensatas. Qualquer jogo demonstra isso com clareza. O da sedução, por mais cruel que seja, nos introduz num labirinto obscuro, onde existe fantasia, ilusões, oásis, pecado... e depois vem a paixão, nos cegando a sensatez de discernimento. A vaidade nos engana, brincando com a nossa capacidade de diferenciar o que é real, o que não faz parte de si próprio, e o que o sedutor significa. É nesse caos que devemos ser sagazes, para esclarecer onde está o amor. Se ele é amor-próprio nos despindo e vestindo o outro, ou se é amor recíproco, em que ambos vestem suas próprias roupas. Já falei sobre liberdade, e hoje repito que nada nos faz livre senão o auto-conhecimento. E é preciso caminhar entre as trevas para saber o que é a luz. É preciso se machucar para aprender o que é dor. E é preciso se apaixonar para se doar, compartilhar e depois voltar a si mesmo. A paixão nada mais é do que um caminho tortuoso para dentro de nós mesmos, enquanto achamos que estamos caminhando para fora. Quanto mais se insiste em se apaixonar, maior é o desejo por si mesmo. Maior é a sede quanto mais caminhamos no deserto em direção ao oásis. E digo mais: o oásis somos nós. A beleza que vemos no outro nos reflete. E é assim que a sedução nos ilude. É assim que, no momento de perversão, é perigoso arriscar e acabar se enganando, se afogando no reflexo de si mesmo no lago.
Hoje sou Narciso. E não há nada mais belo do que se olhar no espelho e se sentir amado - por si mesmo.
Não tenho mais medo de me amar. Se um dia eu me decepcionar, não tem problema. Não vai ser a primeira vez.
Um dia ainda me perdoo por todos os meus erros e defeitos. É assim que se renova o caos, transformando as trevas em luz. E nesse ritmo de light profusion...
Viva a liberdade!

sábado, 7 de abril de 2012

Goodbye yellow brick road


Dorothy me ensinou muito quando foi atrás da cidade Esmeralda para encontrar o grande mágico de Oz e realizar seus sonhos.
Todos nós temos uma estrada de tijolos amarelos a percorrer.
No caminho encontramos amigos para nos acompanhar, cada um com seu defeito próprio.
E os obstáculos começam nas encruzilhadas. Surge uma bruxa boa e uma má.
Vamos seguindo de acordo com nosso discernimento.
Alguns não pensam direito, como o Espantalho
outros, frios como o Homem de Lata
outros, medrosos como o Leão
e outros, ainda, ingênuos como a Dorothy
E há aqueles que são tudo isso junto.
Se temos em quem nos apoiar, conseguimos ultrapassar os obstáculos
(até mesmo uma intoxicação por papoulas)
No fim, somos capazes de conquistar nossos objetivos
Mas o que o grande mágico diz, afinal?
Que não há lugar melhor do que a nossa casa!
Ou seja: não somos nada sem nossa família.
(amigos também são incluídos aqui)

Apesar de tudo isso ser uma bela lição, a lição maior não é essa...
A história reflete como somos dependentes dos outros para crescer.
Mostra como nos apegamos às pessoas e às coisas.
E onde fica a independência?
Hoje é dia do desapego.
Como diz a música... "freedom comes when you learn to let go
creation comes when you learn to say no"
Vamos deixar as pessoas irem embora
Vamos dizer não ao que não nos acrescenta

Hoje é dia que Jesus ressuscita.
E eu tento me re-inventar.
Aos poucos vou me libertando do apego.
Aos poucos vou identificando o que realmente me engrandece.