Outro dia baixei a música do Bruno Mars, It will rain. O primeiro verso é assim: "se um dia você me deixar, baby, deixe um pouco de morfina na minha porta". O que será tão apelativo quanto usar um analgésico tão potente para aliviar a dor da perda? Me ponho a pensar... acho impressionante como as pessoas perderam a noção do amor. E é triste perceber que cada vez mais o mundo é anestésico. Vamos injetar morfina pra esquecer as paixões! Vamos tomar suplemento para alimentar a carência! Vamos aplicar lidocaína para não sentir medo, nem compaixão, nem admiração! Vamos distribuir propofol para não se usar mais o raciocínio! Ibuprofeno para desinflamar o coração partido! Alprazolam para matar a ansiedade, ao invés de enfrentar os problemas! Lexotan pra fugir da realidade! Fluoxetina para viver mais feliz, no país das maravilhas! Vamos distribuir todos esses medicamentos nas praças, nas igrejas, nas empresas, nas escolas! Até na porta das casas, num pacote escrito: "Para nossa alegria!"
Nem é preciso tomar tal atitude. A sociedade já se auto-medica de frustrações dos sonhos não realizados, de ignorância à dor alheia, de egoísmo conjugado à vaidade desenfreada, de estresse consequente da pressa, de intolerância às opiniões divergentes, e de tantas outras drogas que nos fazem cada vez menos apaixonados pela vida.
Cada vez menos se conhece as pessoas. Não é seguro mais se abrir, se envolver e se doar com qualquer um. O medo se espalhou igual a dengue, mas sem precisar de um mosquito como vetor. Nós mesmos transmitimos. E do medo se evolui para a angústia. E daí pra frente, o fundo do poço é o destino final. Os Parafraseando um amigo meu, "a esperança é a última que morre, porque ela nos mata antes". Quem espera, não anda pra frente. Mas o mundo não pára de girar. O tempo não pára. Quem espera fica pra trás. E quem vive se anestesiando, na verdade está fingindo viver. E não há nada mais triste do que uma vida vazia e falsificada. Prefiro sentir, rir e chorar; prefiro quebrar a cara experimentando; prefiro me apaixonar sem esperar nada em troca; prefiro me dilacerar em vários fragmentos para depois uni-los; prefiro a tranquilidade de perceber que o tempo está passando e eu estou seguindo o caminho que tracei.
Pelo menos, não estou anestesiado.
"Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra
Nos serões da província..."
domingo, 22 de abril de 2012
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